É certo que seca no interior baiano, especialmente na região de semiárido ainda não chegou ao fim, mas em muitas regiões choveu bem. Isso, no entanto, não resolve totalmente os problemas da região que ficou sob o flagelo, porque o prejuízo causado à população interiorana, aos municípios e ao Estado da Bahia por ora é incalculável, mas, dentro em breve, será possível se saber o tamanho do desastre. A população se empobreceu; os municípios perderam receita; o comércio na região atingida pouco funcionou, sofrendo prejuízos inestimáveis; e os bancos reconhecem que ficaram paralisados dada a impossibilidade de real izar transações e empréstimos.
Isso não significa, ainda, que a seca chegou ao fim. Mas é fato que choveu e choveu muito em diversas regiões, em diversos municípios. O rastro do prejuízo ficou. Tão cedo o interior baiano não se recuperará de um flagelo previsível, não somente aqui, mas em toda a região nordestina.
O grande problema agora, nas regiões em que as chuvas se precipitaram, é o pós-seca que deixa um prejuízo imenso para a recuperação dessas regiões. Sabe-se que do rebanho a Bahia perdeu nada menos do que um milhão de cabeças de gado sem se falar em outras criações que não se tem, ainda, uma estimativa sobre o prejuízo.
O problema agora é como repor o rebanho dizimado pela falta de água e de alimentos para os animais. Dá-se o seguinte: no ano passado, o flagelo da seca já estava instalado no semiárido. Aconteceu que, na estação das chuvas, que começa em outubro, os sertanejos respiraram aliviados porque elas chegaram, com atraso mas a tempo e em razoável quantidade. Antes, o pasto estava estorricado em toda a região, mas, com as chuvas, novamente ficou verde, se tornou viçoso.
Deu-se, ainda, que quase de imediato, a chuvas cessaram e a seca voltou com o sol incandescente destruindo plantações, matando rebanhos e secando aguadas. As barragens, também atingidas, são poucas. Agora, com o presumível fim da seca, o capim não nasce mais. As sementes ressuscitam apenas uma vez. O que está surgindo em lugar das pastagens é mato, principalmente tiririca, que é uma praga verde. O que fazer?
A situação se agrava com a ausência de crédito para os criadores. O Banco do Brasil é a instituição financeira que banca o crédito. De duas formas: 1- com a garantia do penhor agrícola, quando ele assume o risco de a safra não vingar e, 2- ou com a garantia real, no caso o penhor recai sobre a propriedade. Nos dois casos a situação fica crítica. É difícil uma boa safra e com a seca o valor das propriedades desabaram.
O lamento é que o semiárido e todo o interior baiano antes da seca chegaram atravessar um período de esplendor para os trabalhadores da roça, que tinham emprego, e para os criadores e agricultores que atravessavam tempos de vacas gordas. Ao inverso do ditado “depois da tempestade vem a bonança”, no caso do interior baiano “depois da bonança (as vacas gordas) veio a desgraça”
Essa é a questão sem dúvida alguma mais importante para a economia baiana, cuja industrialização é pequena em comparação com a de outros estados federativos. O governo federal fica na obrigação de encontrar uma fórmula, uma saída, para beneficiar o sertão, uma maneira de garantir financiamento para a recuperação da região flagelada onde hoje, ao invés do capim, só nasce tiririca. E como recuperar a criação bovina dizimada pelo sol escaldante, sem água e sem comida?
O governo baiano tem além de tudo outro problema para se preocupar. O semiárido do baiano pode estar a caminho da desertificação, o que já se observa. Para que não aconteça, são necessárias medidas urgentes, soluções técnica com aplicação de recursos. Não custa lembrar os cacauais do sul baiano, principalmente de Ilhéus e Itabuna, os municípios mais ricos. o cacau assegurava a receita do governo do Estado e, de tão próspero, era a garantia do pagamento dos salários dos servidores públicos. Repentinamente, não se sabe como, a praga da vassoura-de-bruxa instalou-se na lavoura e a dizimou, levando à miséria aos trabalhadores da região, alem de destruir as fortunas acumuladas pelos coronéis do cacau presentes nas obras de Jorge Amado. Como fazer com o semiárido?
Samuel Selestino.